Parei com o Refri

Eu parei de tomar refrigerante. Eu parei de olhar pra trás. Foi assim, simples. Uma decisão não planejada. Eu estava sentada na porta da cozinha, minha tia falando pela milésima vez que começaria uma dieta na segunda e eu, por puro ímpeto, decidi parar. Na hora não pesei prós e contras, eu só senti, no âmago, que era a coisa certa a fazer.

Não tem sido fácil, principalmente quando vejo os objetos dos meus vícios sendo usados e divulgados por onde quer que eu vá. Ele passa, eu olho, sinto sede, mas exatamente como faço com a coca, não vou mais provar. Eu cansei da gastrite. É bom, mata a sede, refresca o corpo, preenche o estômago, mas o lado bom não durou muito, me corroeu por dentro e, pouco a pouco, eu ficava mais fraca. Demorei a perceber o culpado pela dor. E não falo do refrigerante.

Quero levar uma vida mais saudável, livre de lágrimas noturnas, remédios para o estômago, álcool no sangue e fumaça no cabelo. Quero parar de pensar no que poderia ter sido se as coisas fossem diferentes. Quero fazer da minha vida diferente. Já percebi que essa história de manter os inimigos por perto é roubada, dessa vez, vou me manter distante de tudo o que me faz mal. Primeiro a Coca-Cola, depois ele e, em breve, todas as lembranças que perturbam meu estômago.

Eu parei com essa história de ser mocinha da novela mexicana. Não quero ser mártir, sofrer e me fazer de forte. Chega de lágrimas e dramas, vou cuidar de mim. Só quero ser feliz agora, só quero ficar bem. Quero ser só eu, a paz e todas as minhas coisas boas e bobas numa cozinha pequena.

 Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais

Elis Regina

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