Eu acordo cedo, sempre saio correndo, com pressa e pensando em algo que
deixei de fazer porque não tive tempo. Entro na sala de aula, respondo
exercícios da aula seguinte, ouvindo a explicação da aula presente e pensando
no assunto da aula passada. Como depressa no intervalo, como depressa no
almoço. Volto pra aula à tarde, tento me concentrar e esquecer qualquer
mensagem que insista em fazer o visor do meu celular acender. À noite, inglês.
Duas longas horas que me esgotam. Em seguida vem uma ligação, ouço a voz da
minha mãe, falo sobre o dia, sobre os problemas e sobre a vida. E o meu dia
acaba com uma saída rápida, esqueço o cansaço e me divirto, aproveito o fim da
noite com um cara. Seja meu ou não.
Parece que nunca há tempo. Me sinto em um campo de batalha. A realização
do sonho exige tanta guerra que é inevitável se questionar até que ponto tudo
isso vale a pena. E as mulheres enchem a boca pra falar do seu sexo forte. “Eu
não preciso de homens”. “Eu me banco sozinha”. Meus parabéns, eu admiro tudo
isso, mas, cá entre nós, é difícil pra caramba, não é?
É fato que eu dou conta da minha vida. Eu me viro e não preciso que
ninguém me ensine como me manter. E, teoricamente, nos salvamos com beijos
ocasionais, mensagens de “bom dia” e um cara que diga que entende nosso lado “mulherão”,
mas esses caras nunca são, no fundo, nossos. Nos enfeitamos pra eles, nos
mostramos fortes e mantemos a fachada inabalável. Mas no íntimo – e que eles
não desconfiem disso -, precisamos mesmo é de super heróis.
Alguém que nos peque no colo, no meio da loucura do mundo e diga que não
precisamos provar nada pra ninguém, que ele vai estar lá pro que der e vier. Que
garanta um mundo seguro. Alguém com quem possamos contar. E talvez daí venha o
sucesso da canção do Roberto Carlos. Sempre vai surgir um engraçadinho pra
dizer que esse cara não existe. Não importa. Eu quero alguém que pelo menos
tente ser o cara.
Meu mundo já é louco o suficiente pra que eu envolva alguém que não se
importe. Se for pra ser frio, se for pra ser prático, se for pra ser pouco
romântico não quero. Ele tem que, pelo menos, se esforçar pra ser o meu cara
certo. Tem que ser alguém que me faça bem, ainda que tudo vire de cabeça para
baixo. Pode até ser responsabilidade demais pra atribuir à alguém. Mas nós, mulheres,
não fazemos isso com cada idiota que passa pelas nossas vidas?
Temos mil coisas pra fazer, mas ainda passamos maquiagem, fazemos
depilação e sorrimos de cada piada dos amigos deles. Somos ocupadas, mas sempre
arranjamos um modo de fazê-los felizes. Presentes, beijinhos, pequenos recados.
Eu não estou pedindo nada demais. Nada impossível. Só quero reciprocidade. Se,
no meio da guerra eu arranjo tempo pra fazer um cara feliz, mesmo no meio da
guerra, pra ser amor, ele tem que
tentar ser o meu cara.