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Pior que gastrite



Por que eu me sinto como se estivesse fazendo tudo errado? Me tornei livre para estar com
ele, mas ele tem alguém. Desde então, eu tenho andado a esmo nas relações, me perguntando a quem estou traindo: será a mim mesma?
Existem outros caras – porque sempre vão existir -, e, mesmo os mais bonitos, mais engraçados, mais interessados e disponíveis, me fazem sentir que estou sendo infiel a ele. Descobri que fidelidade não é opcional. Quando se está apaixonada, não existe mais ninguém no mundo que te atraia. E isso assusta. Porque não pode ser, embora já o seja.
Eu até tento, mas só de pensar em alguém diferente me tocando, sinto nojo de mim. E até ouço as amigas que dizem o quanto isso é estúpido, porque ele tem alguém, porque eu sou jovem e não devo me manter presa à isso. Mas vai explicar pro meu corpo. Ele não entende. E eu imagino que é melhor ficar em casa, calculando o tamanho da falta, do que sair por aí e conhecer outro corpo que não compreende metade daquilo que sou.
Hoje em dia doar corpo é muito fácil. Mas e o que eu faço com a minha alma? Coloco num frasco e guardo até que a aventura acabe? Ela vai sempre me acusar de me deixar ser usada enquanto não pertenço nem a mim. Quando eu sorrio pra outro, não sou eu quem ri, quando eu ouço os outros, são as histórias dele que me distraem e, comparativamente, não há ninguém igual. Melhores, até, mas não iguais. Os defeitos dele, que faltam neles, os tornam incompletos.
E quando já é madrugada e quero voltar pra casa, imagino onde e com quem ele está. As outras pessoas do mundo me dão preguiça, as outras pessoas do mundo são medíocres e não entendem que saudade é pior que gastrite. E eu sigo com os elogios, os estudos bem levados, a solteirice discreta e essa paixão dolorida no estômago, porque eu me recuso a usar a palavra “coração” e tornar tudo isso mais oficialmente destrutivo do que já é.
Eu ando, entende? Não paro no semáforo e choro, nem ouço Linkin Park com o fio do mouse na mão. Mas ainda sinto que está tudo errado. E, irracionalmente, coloco a culpa em mim por não ser suficiente pra mantê-lo por perto. Por que, se eu fiz tudo certo, como pode o mundo ainda estar tão torto?

Alexya Cristal
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3 comentários:

  1. Gostei muito *-*
    http://repairingalways.blogspot.com.br/

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  2. Eu ando, entende? Não paro no semáforo e choro, nem ouço Linkin Park com o fio do mouse na mão.
    Fiquei com vontade de mandar essa frase via sms. kkk
    Adorei o blog, queria saber se aceita troca de seguidores?
    Segue o meu, que eu retribuo com todo prazer.
    Beijos

    www.camilasousa.com.br

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  3. Que texto bonito! E concordo: saudade é BEM pior que gastriste, e sufoca.

    Tem post novo, passa lá e comenta?
    http://sindromedaeradeouro.blogspot.com.br/2012/10/cuidado-que-eu-mudei-de-lugar-algumas.html

    Beijos!

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