Quase

“O problema do quase é o que ele não é”. Lembra de quando você me disse isso? Me fez pensar, terrivelmente assustada, que você não servia pra mim. E você era quase perfeito, quase romântico, seu emprego era quase o que você queria e o nosso namoro parecia um coito interrompido: quase feliz.

Ainda hoje, quando te encontro, é como se eu reencontrasse uma foto minha de criança. Bate a saudade, aquela nostalgia dos tempos mais simples, o sorriso sem pressão nos lábios e o conforto daquilo que é conhecido. Por mais que eu ame a foto, eu estou, definitivamente, melhor agora.

E alguns vão me dizer o quanto nós formávamos um belo casal. E eu vou sorrir agradecendo, fingindo pesar pra não causar assombro. Mas eu sei a verdade. Ninguém namora esculturas, por mais belas que sejam.

Eu estava cansada das poses, você me conhece muito bem, sabe que não foi surpresa nenhuma me ver fugindo do script e escrevendo meu próprio roteiro. Mas quando você me liga, porque é óbvio que você tinha que continuar ligando, eu continuo dizendo: “claro que eu sinto sua falta, mas foi melhor assim, querido.”

Porque simplesmente não dá pra ser completamente honesta com você. Seria como bater num cachorrinho. E eu vou vivendo com esse peso que às vezes carrego no colo e às vezes coloco rodinhas. Dá pra ir levando. Enquanto você não cresce e arruma sua própria bagagem, eu vou sendo inteiramente feliz.

É incrível como os seus “quase’s” tão obviamente incompletos me fizeram ver meu desejo de ser preenchida. Mas que ninguém te revele isso, pra todos os efeitos, eu estou quase morrendo de saudades de você. Até que você se dê conta da ironia e procure se preencher também.

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